Originário do México, o milho é um cereal milenar, cultivado pelos antigos povos Maias, Incas e Astecas, que o usavam não apenas como alimento, mas também como oferta aos deuses. Foi Quetzalcóatl, uma divindade adorada pelos Astecas, Toltecas e Maias, quem teria não só originado os homens como também providenciado seu principal alimento, o milho.[1]
Fig.1 – Quetzalcóatl, divindade adorada pelos Astecas, Toltecas e Maias.
O milho foi levado para a Europa em 1493 nas naves de Cristóvão Colombo. Três anos mais tarde, ele já era cultivado na Espanha e depois no sul da França, Itália e resto da Europa, espalhando-se em seguida para outras partes do mundo. Atualmente, presente em todos os cinco continentes, o milho é um dos cereais mais cultivados do planeta, sendo tão importante quanto o trigo e o arroz. [2]
No Brasil o milho já era cultivado pelos índios antes mesmo da chegada dos portugueses, que o utilizavam como um dos principais itens de sua dieta. Mas foi com a chegada dos colonizadores, cerca de 500 anos atrás, que o consumo do cereal no país aumentou consideravelmente e passou a integrar o hábito alimentar da população. De acordo com a Fundação Joaquim Nabuco, no período Brasil-Colônia, os escravos africanos tinham no milho, além da mandioca, como um de seus principais alimentos. [3]
A grande variedade natural que o milho apresenta levou Barbara McClintock (1902 – 1992) a escolhe-lo como objeto de seus estudos na área da Genética Vegetal.
Barbara nasceu na cidade de Hartford no estado de Connecicut, Estados Unidos. Seu pai era médico do exército e sua mãe professora de piano. Desde cedo ela apresentou grande interesse por ciência, o que contrariava a tendência da época para as mulheres: realizar um bom casamento que garantisse seu futuro. Mas ela estava muito determinada e seus pais concordaram, em 1918, que ela fosse para a Escola de Agricultura da Universidade de Cornell (Ithaca, NY). Ao concluir seu curso de graduação ela já estava muito intrigada com a grande variedade de milhos existente na natureza e inicia seus estudos para o mestrado com um trabalho que visava identificar os cromossomos desse cereal. A figura 2 é uma linda imagem da jovem Barbara McClintock idealizada tendo como fundo o objeto de suas pesquisas.
Fig. 2
Durante seu doutorado ela aperfeiçoou um método, que seu orientador já utilizava, que permitiu-lhe caracterizar os cromossomos do milho. Como sabemos, os cromossomos são componentes celulares responsáveis pela herança genética dos seres vivos e são visíveis ao microscópio. Barbara ganhou muita experiência ajudando Edward Tatum a identificar e analisar os genes dos cromossomos do fungo vermelho do pão, Neurospora crassa, que levou à importante conclusão de que cada gene codifica uma proteína necessária à vida do organismo. Ela decide então que a próxima etapa de sua pesquisa seria mapear os genes constituintes dos cromossomos das diferentes linhagens conhecidas de milho e assim entender o porquê de tantas variedades. Sua pesquisa foi influenciada pelas descobertas relativas alterações nos genes devidas aos efeitos das radiações, em especial raios X. Ela então dá início a uma importante colaboração com Lewis Stadler, da universidade de Missouri, que havia demonstrado que milho irradiado com raios X apresenta modificações nos seus genes. Stadler forneceu a Barbara amostras de milho irradiado e ela mapeou então as áreas modificadas. Em 1936 ela conseguiu ser nomeada membro do corpo docente dessa Universidade mas, depois de vários anos, ela concluiu que, devido à sua condição de mulher, ela não teria chance de progressão na carreira e decide, em 1941, demitir-se dessa Universidade.
Barbara McClintock recebe, logo em seguida um convite de Marcus Rhoades, que era da Universidade de Columbia, e Milislav Demerec um cientista do Cold Spring Harbor Laboratory, Cold Spring Harbor Laboratory, (instituição de investigação científica localizada em Laurel Hollow, Nova Iorque, USA especializado no estudo de câncer, neurobiologia, genética vegetal, genômica e bioinformática. Nove dos cientistas que trabalharam nesse laboratório foram laureados com o Prêmio Nobel) [4] para passar um verão nesse laboratório. Logo esse convite se transforma numa oferta de emprego que ela aceita em 1942 e dá prosseguimento às suas pesquisas nessa Instituição até seu falecimento em 1992.
Durante sua vida científica examinando mutações nos cromossomos de muitas variedades de milho e em amostras de milho irradiado ela chegou a importantes descoberta na área de Genética e fez duas propostas fundamentais: a primeira que genes de dois diferentes cromossomos poderiam como que saltar de um cromossomo para outro e a segunda que os cromossomos teriam uma região terminal destinada à proteção da sua estrutura e que quando essa porção terminal é destruída pela irradiação o cromossomo danificado pode se unir a outro e formar um anel. Ela denominou o último efeito de transposição e a região terminal de telômero.
Observou ainda que durante a divisão celular pode ocorrer a recombinação entre dois cromossomos homólogos, emparelhados durante o início da divisão celular que trocam alguma porção distal do seu DNA. Isso dá origem a um cromossomo recombinante que acarreta uma mudança genética nas células e, consequentemente, em algum aspecto do ser vivo que o mesmo codifica. Barbara ao longo de seus estudos correlacionou as alterações cromossômicas com as variações produzidas pela radiação no milho e analisou também quais as variações cromossômicas responsáveis pelas características das inúmeras variedades de milho presentes na natureza. Ela propôs ainda a hipótese de que o mecanismo de transposição dos genes resulta da necessidade de rápida reorganização dos genes em resposta a pressões decorrentes de variações ambientais.
Todas essas descobertas não foram imediatamente aceitas pela comunidade científica que acreditava, até o final de1950, na interpretação de Thomas Hunt Morgan, que os cromossomos são formados pela sequência inalterável de genes, constituídos por pequenas esferas, dispostas como as contas de um colar conferindo assim uma total estabilidade ao DNA. Mas, apesar disso, ela prosseguiu em suas pesquisas que mostraram a veracidade de suas observações e conclusões e que finalmente foram aceitas e confirmadas quando surgiram os modernos métodos de sequenciamento do DNA. [5]
As notáveis contribuições para o desenvolvimento da Genética realizadas por Barbara McClintock foram reconhecidas pela outorga do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1983, cerca de 40 anos após suas primeiras descobertas. Nessa ocasião ela declarou: O prêmio é uma honra tão extraordinária. Pode parecer injusto, no entanto, recompensar uma pessoa por ter tido tanto prazer ao longo dos anos, pedindo à planta do milho para resolver problemas específicos e depois observando suas respostas. [6]
Fig. 3
Barbara McClintock foi a primeira mulher a ser presidente da Genetics Society of America, a terceira mulher a ser eleita para a National Academy of Sciences, e a terceira mulher a ganhar o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, mas a primeira que o ganhou sozinha. Ela era convencida de que trabalhar em ciência não deveria ter limites – Se você for curioso, independentemente de gênero, raça e extrato social, então pode ser um cientista.
Fig 4 – Barbara McClinton na entrada de seu Laboratório.
Fontes:
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Milho#Hist%C3%B3ria
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Milho
[3] http://www.aprosoja.com.br/soja-e-milho/a-historia-do-milho
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Laborat%C3%B3rio_Cold_Spring_Harbor
[5] http://www.dnaftb.org/32/gallery.html
[6] https://todayinsci.com/M/McClintock_Barbara/McClintockBarbara-Quotations.htm