Yvonne P. Mascarenhas

yvonne@ifsc.usp.br

Como a certidão de nascimento de Policarpa Salavarrieta nunca foi encontrada, existe muita disputa sobre sua data, local de nascimento e seu nome legal. Sabe-se, entretanto, que seus pais foram Joaquim Salavarrieta e Mariana de Rios e que tinham uma boa situação econômica, embora não pertencessem à nobreza. Presume-se que nasceu no município de São Miguel de Guaduas, vice-reinado de Nova Granada, no dia 26 de janeiro de 1795 e sabe-se que faleceu em 14 de novembro de 1917 em Santa fé de Bogotá. Ela é frequentemente designada por La Pola, uma abreviação de seu nome utilizada em muitos textos e homenagens.

Em 1797 a família Salavarrieta muda-se para Bogotá onde vivem por cerca de 5 anos quando ocorre uma epidemia de varíola com muitas vítimas, entre as quais seu pai, sua mãe e dois irmãos (Joaquim e Maria Ignacia). Em consequência dessa tragédia a família Salvatierra se separa, pois dois de seus filhos, José Maria e Manuel, resolvem ingressar na vida religiosa na comunidade agostiniana, outros dois, Ramon e Francisco Antônio, viajam para Tena para trabalhar numa fazenda e Catalina, a irmã mais velha, com seus dois irmãos menores Policarpa e Bibiano, decide voltar para Guaduas cerca de 1804 indo morar com sua madrinha Margarita Beltrán, até se casar com Domingo Garcia, levando seus dois irmãos para viver com sua nova família. Mesmo depois de casada Catalina continua a se responsabilizar pela educação e sustento de Policarpa e Bibiano. Assim Policarpa adquire uma boa educação e se profissionaliza como costureira.

Quando Policarpa contava apenas 15 anos, já se formavam movimentos de libertação no vice-reinado da Grã-Colômbia e ela e seu irmão Bibiano participam no Grito de Independência, manifestação que se originou no fato de que José González Llorente (comerciante espanhol) se recusou a emprestar para Luis Rubio e seu irmão um vaso de flores para ornamentar a mesa de um jantar a ser oferecido para Antonio Villavicencio, um visitante que apoiava a independência da Colômbia. Como Luis Rubio, seu irmão, e Antonio Villavicencio eram nascidos na colônia e, por essa razão, chamados pejorativamente pelos espanhois de “criolos”, Llorente recusa-se a emprestar o vaso dizendo, arrogantemente, que jamais emprestaria o vaso a um criolo para honrar outro criolo. Esse fato aparentemente trivial foi o estopim de um sentimento de exploração que tinha a população criola em relação aos espanhois que exerciam um poder arbitrário e eram encarregados da cobrança de pesados tributos cobrados pela Espanha, além de comandar tropas espanholas de repressão aos movimentos de libertação das colonias.

A partir daí, Policarpa passa a exercer atividades políticas vinculadas ao exército patriota das planicies (ejercito patriota de los llanos) para libertação da Colômbia. Sua profissão de costureira lhe permitia frequentar as casas dos dominadores espanhois onde tinha oportunidade de se inteirar do planejamento de atividades do exército espanhol e, atuando como espiã, passar essas informaçõs para o Exército Patriota.

Essas atividades foram de grande importância e poderiam ter continuado, sem levantar suspeitas, até que os irmãos Almeida foram capturados com documentos que revelavam sua participação na luta para a libertação da Colômbia. A situação de Policarpa e seu noivo Alejo Sabarain piorou ainda mais pela delação de Facundo Tovar, um criador de gado venezuelano que, a serviço do espanhois, se infiltrou no exercito patriota e delatou as ações que ambos exerciam para recrutar soldados para o Exercito Libertador. Alejo Sabarain foi preso e sua prisão foi decisiva para a descoberta das atividades de Policarpa, porque ele tinha uma lista de nomes de realistas e patriotas da qual constava o nome de Policarpa. Imediatamente ela foi procurada e presa no Colegio Mayor de Nuestra Señora del Rosario transformado em cárcere.

Em 10 de novembro de 1817 o Conselho de Guerra a condenou a morte por fuzilamento, assim como a Alejo Sabarain e mais oito patriotas. Ao subir ao patíbulo Policarpa dirigiu as seguintes palavras ao povo que ia presenciar a sua execução:

 “Viles soldados, volved las armas a los enemigos de vuestra patria. ¡Pueblo indolente! ¡Cuán distinta sería hoy vuestra suerte si conocierais el precio de la libertad! Pero no es tarde: ved que ― aunque mujer y joven― me sobra valor para sufrir la muerte y mil muertes más. No olvidéis este ejemplo [...] Miserable pueblo, yo os compadezco. ¡Algún día tendréis más dignidad! [...] Muero por defender los derechos de mi patria.”

O corpo de Policarpa foi reclamado por seus irmãos sacerdotes, Jose Maria e Manuel, que o conservaram na Igreja de San Agustin.

Embora outras mulheres tenham sido assassinadas durante a ocupação espanhola, a história de Policarpa se registrou na imaginação popular e seu ideal de liberdade inspirou poetas, escritores e dramaturgos que a imortalizaram em suas obras.

Ao longo do tempo muitas homenagens com estatuas, nomeação de diversas localidades, moedas, selos de correio, notas bancárias, foram feitas a Policarpa na Colômbia e na Argentina e, finalmente, em 09 de novembro de 1967 o congresso e a presidência da república da Colômbia declararam o dia de sua morte, 14 de novembro, como o “Dia da Mulher Colombiana”.

Placa do monumento La Pola em Bogotá.

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Policarpa_Salavarrieta

https://www.britannica.com/place/Colombia/Revolution-and-independence

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/batalha-que-mudou-o-destino-da-colombia-completa-203-anos-neste-domingo-7/

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