Contar e celebrar a história da vida de Antonieta Barros é de enorme importância por várias razões pois é um exemplo de luta contra enormes obstáculos que ela superou de forma admirável e que destacaremos neste pequeno relato.

Antonieta Barros nasceu em 11 de julho de 1901 numa pequena cidade chamada Desterro que foi a origem da atual cidade de Florianópolis. Sua mãe, Catarina Waltrich, uma escrava liberta e seu pai Rodolfo José de Barros, um funcionário dos Correios. Sua mãe ganhava a vida como lavadeira e como empregada na casa do político Vidal Ramos, pai do bem-sucedido político catarinense Nereu Ramos. O pai de Antonieta morreu cedo e sua mãe conseguiu estabelecer em sua casa uma pequena pensão que hospedava estudantes.  Antonieta foi muito estimulada a estudar devido à sua convivência com os estudantes. Cursou o ensino fundamental na Escola Lauro Muller e aos 17 anos inicia o curso da Escola Normal Catarinense. que a habilitou a exercer o magistério.

As suas atividades profissionais iniciam-se ao criar o Curso Particular “Antonieta Barros” para adultos analfabetos visando contribuir para o seu desenvolvimento através da educação. A excelente qualidade de seu ensino foi reconhecida e ela lecionou no Colégio Coração de Jesus de Florianópolis, uma escola particular de elite e foi diretora do Instituto de Educação e Colégio Dias Velho.

Em paralelo, Antonieta inicia uma bem-sucedida carreira de jornalista escrevendo muitos artigos e crônicas discutindo problemas associados a educação que resultavam de sua crença fundamental na importância do estabelecimento de uma educação de qualidade para resolver os problemas de seu estado, Santa Catarina, e do Brasil.

Extraordinário é o fato dela, como mulher pobre e negra, numa época que não se concedia ás mulheres em geral, e muito menos às negras, a livre expressão de suas ideias, se atrever a denunciar e combater os desmandos políticos da classe dominante e a lutar pelo direito das mulheres à educação em todos os níveis assim como exercerem funções na política e em todas as áreas profissionais. Sobre esse tema, durante a década de 1930, corresponde-se com a bióloga e ativista paulista Berta Lutz que lutava pelos direitos civis das mulheres.

Para exercer um papel ainda mais ativo em suas lutas, Antonieta se candidata a deputada na Assembleia Legislativa de Santa Cataria e é eleita em 1934 quando participa da redação da Constituição de Santa Catarina escrevendo dois capítulos relacionados à educação e cultura e ao funcionalismo. Seu mandato foi interrompido devido ao golpe de estado praticado por Getúlio Vargas. Foi reeleita mais tarde, em 1947, e a Assembleia Estadual de Santa Catarina aprova sua proposta de lei estadual estabelecendo o dia 15 de outubro como o dia do Professor, oficializado para todo o Brasil 30 anos depois durante o governo de João Goulart.

Além de professora, Antonieta Barros exerceu atuou por 23 anos como jornalista sob pseudônimo de Maria da Ilha, produzindo mais de 1000 artigo publicados em oito jornais, criou a revista Vida Ilhoa e escreveu o livro Farrapos de Ideias.

Os inúmeros feitos de Antonieta de Barros foram reconhecidos através de nomeação de lugares públicos de Florianópolis, medalhas criadas por várias entidades em sua homenagem para premiação pela produção de materiais relacionados aos objetos de sua luta, publicação de livro referente à sua biografia e a concessão em 10 de dezembro de 2021 do título de doutora honoris causa, in memoriam, pela Universidade Federal de Santa Catarina unanimemente aprovada pelo Conselho Universitário. Sua memória foi ainda honrada no dia 05 de fevereiro de 2023, com a inclusão de seu nome no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria e da Liberdade do Panteão Tancredo Neves por Luís Inácio Lula da Silva que sancionou o projeto de lei do deputado federal Alessandro Molon.

Para concluir quero citar o trecho final de um artigo publicado no jornal El Pais:

“Seu nome deveria ser conhecido por cada criança que homenageia seus professores no dia 15 de outubro. Por cada mulher que exerce seu direito ao voto e disputa vagas nas eleições. Por fim, por cada brasileiro que sai às ruas indignado com os preconceitos de cor, classe e gênero”.

Aline Torres, jornal El Pais 14/10/2022