maria quiteria

Introdução 

Ao comemorarmos a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, é importante reconhecer que essa conquista não foi um evento instantâneo em todo o vasto território brasileiro. A luta pela independência e preservação da integridade nacional envolveu inúmeras batalhas e sacrifícios, muitos dos quais foram liderados por heróis e heroínas notáveis. Nesse contexto, destacamos a figura de Maria Quitéria e sua significativa participação na luta pela independência na Bahia.

Trajetória Militar 

No momento em que D. Pedro I proclamou a independência, a Bahia era uma das províncias mais cruciais do Brasil. Em Salvador, os portugueses mantinham uma administração organizada e contavam com um contingente militar leal a Portugal, opondo-se à ideia de independência. Uma parcela da população, favorável à causa da independência, estabeleceu um Conselho Interino do Governo da Bahia e formou o Exército Pacificador, um grupo de voluntários destinado a combater as forças pró-Portugal. Foi nesse contexto que Maria Quitéria, filha do fazendeiro português Gonçalo Alves de Almeida e de Joana Maria de Jesus, residentes em Feira de Sant’Ana, Bahia, aos 30 anos de idade, decidiu voluntariar-se para integrar o Exército Pacificador porque, além de ser favorável à Independência do Brasil já possuía habilidades com armas de fogo e equitação. Apesar da resistência inicial do pai, Maria Quitéria conseguiu se alistar no Regimento de Artilharia, usando o nome de seu cunhado, José Cordeiro de Medeiros, apoiada por sua irmã que lhe forneceu roupas de seu marido.

Após sua incorporação, Maria Quitéria permaneceu firme em sua determinação, mesmo quando seu pai tentou dissuadi-la e trazê-la de volta para casa. O major José Antônio da Silva Castro também apoiou sua permanência no regimento, reconhecendo suas habilidades militares e disciplina. A pedido do pai, Maria Quitéria foi transferida para a infantaria, e assim, juntou-se ao batalhão “Voluntários do Príncipe Dom Pedro” com seu nome real. Seu uniforme como soldado-mulher incluía um saiote sobre a farda militar. Demonstrando coragem em diversos combates, incluindo a defesa da Ilha da Maré, Barra do Paraguaçu, Pituba e Itapuã, Maria Quitéria foi promovida a “cadete” em 2 de março de 1823, sendo agraciada com uma espada e acessórios.

maria quitéria

Em 2 de julho de 1823, com a derrota das tropas portuguesas, o “Exército Pacificador” adentrou Salvador, marchando com Maria Quitéria e seu batalhão. Esse evento tornou-se símbolo da independência na Bahia, honrando a memória da corajosa Maria Quitéria – a primeira mulher a integrar as fileiras do Exército Brasileiro –, sendo profundamente reverenciada pelo povo baiano.

Contudo, mesmo após esse triunfo, ainda persistiam resistências à independência no norte do Brasil, que só foram completamente dominadas em agosto de 1823. A partir desse momento, o Brasil finalmente consolidou-se como uma nação unificada e independente, estendendo-se de norte a sul.

Homenagens e Legado 

Para participar das comemorações da independência, Maria Quitéria deslocou-se para o Rio de Janeiro, onde já era reconhecida por sua bravura. Em 20 de agosto de 1823, no Palácio de São Cristóvão, Dom Pedro I condecorou Maria Quitéria com a Medalha da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul, no grau de cavaleiro, reconhecendo-a pelos serviços militares prestados com excepcional coragem. O imperador destacou:

“Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro”.

Após ser reformada como “alferes”, Maria Quitéria regressou à Bahia com uma carta do Imperador dirigida a seu pai, pedindo que ela fosse perdoada pela desobediência, no que foi atendido.

Pós-Carreira Militar  

Após sua carreira militar, Maria Quitéria retomou a vida na fazenda de seu pai. Contra a vontade paterna, casou-se com Gabriel Pereira de Brito, um humilde lavrador, com quem teve uma filha, Maria da Conceição. Após o falecimento de seu pai, Maria Quitéria enfrentou disputas familiares relacionadas à herança, mas desistiu do processo devido à morosidade da justiça e conflitos com a madrasta.

Depois da morte do marido, Maria Quitéria mudou-se para Salvador, onde viveu no anonimato, enfrentando doenças e quase cegueira. Ela faleceu em 21 de agosto de 1853 e foi sepultada na Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, no bairro de Nazaré, em Salvador.

Legado e Homenagens Permanentes 

Maria Quitéria é lembrada por sua coragem e dedicação à luta por ideais nobres. Sua memória é eternizada por meio de várias estátuas em toda a Bahia, que inspiram as mulheres brasileiras na busca pela igualdade de gênero e oportunidades em todas as esferas da vida sejam culturais, científicas ou políticas. Uma dessas estátuas é a “Maria Quitéria de Jesus, Soldado Medeiros”, esculpida por José P. Barreto e inaugurada em 21 de agosto de 1953, localizada na Rua Lima e Silva – Praça da Soledade, Bairro da Liberdade, Salvador, BA.

Estátua de homem na frente de um prédio

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Estátua “Maria Quitéria de Jesus, Soldado Medeiros”, de José P. Barreto, inaugurada em 21 de agosto de 1953

O reconhecimento formal do valor de Maria Quitéria ocorreu em junho de 1996, quando a Presidência da República a proclamou Patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro, por meio de decreto datado de 28 de junho de 1996. Sua imagem é exibida em todos os quartéis, estabelecimentos e repartições militares das Forças Armadas, de acordo com determinação ministerial.

Referências

https://www.ebiografia.com/maria_quiteria/

https://feirahoje.com.br/maria-quiteria/

https://www.eb.mil.br/qco