Yvonne P. Mascarenhas
yvonne@ifsc.usp.br

Maria Lenk - Pioneira - Natação - Olimpíada - Primeira mulher brasileira a participar de uma Olimpíada

A vida de Maria Lenk é um admirável exemplo de grande dedicação ao esporte, tanto sob o ponto de vista de vitórias e superação de recordes em natação como de sua extensão como recurso fisioterápico.

Maria Lenk, cujo nome completo é Maria Emma Hulga Zingler, nasceu em 15 de janeiro de 1915 em São Paulo. Sua carreira de nadadora começa quando adoeceu vítima de uma pneumonia dupla ainda menina, aos dez anos, da qual ela se recuperou. Seus pais, temerosos de eventuais consequências à saúde da filha, decidiram iniciar um programa de natação com sessões regulares de exercício. Como não tivessem acesso a piscinas, resolveram realizar os treinos no rio Tietê, que nessa época não era poluído e bastante usado para atividades de esporte e de lazer

No início de sua carreira Maria Lenke participou de algumas competições promovidas por clubes que existiam às margens do rio Tietê e de uma competição de travessia de São Paulo a nado ao longo do mesmo rio, organizada pelo jornal Gazeta Esportiva que também criou a maratona de São Silvestre que ocorre ainda hoje, ao contrário da travessia de São Paulo, que teve que ser interrompida em virtude da grave condição sanitária causada pela poluição do rio.

Em 1930 Maria Lenke vai ao Rio de Janeiro a fim de participar de uma competição organizada para nadadoras do Rio e de São Paulo e vence todas as provas. 

Sua carreira ganha grande impulso quando em 1932, aos 17 anos, ela participa das Olimpíadas de Los Angeles sendo a única mulher sul-americana na equipe brasileira que contava com 46 homens. Apesar de não ter sido premiada sua atuação foi notada e a incentivou a prosseguir.

Maria Lenk - Pioneira - Natação - Olimpíada

Fig. 1 Maria Lenk, a primeira mulher brasileira a participar de uma Olimpíada (Arquivo Nacional)

Ao participar da Olimpíada de Berlim em1936, ela foi pioneira em mais um quesito quando foi a primeira mulher a usar o nado borboleta e, por essa razão, é considerada Pioneira da Natação Moderna.

Durante o ano de 1939 Maria Lemke treinou intensamente com o objetivo de participar nos Jogos Olímpicos de 1940 que deveriam se realizar em Tóquio, mas que, infelizmente foram cancelados devido à entrada do Japão na segunda guerra Mundial. Maria Lenk quebrou os recordes mundiais de 200 m e de 400 m no nado peito. Teve seu recorde reconhecido quando no dia 11 de outubro de 1939, na piscina do Botafogo Futebol Clube, nadou os 400 metros peito em 6min15s8, tornando-se a primeira atleta sul-americana, entre homens e mulheres, a bater um recorde mundial de natação reconhecido pelo Federação Internacional de Natação.

Fig. 2 Diploma da FINA em reconhecimento ao recorde de Maria Lemke

No início dos anos 40, Maria Lenk foi a única mulher da delegação sul-americana que excursionou pelos Estados Unidos tendo quebrado 12 recordes estadunidenses e aproveitado para concluir o curso de educação física na Universidade de Illinois.

Em 1942, aos 27 anos, ela abandona a carreira como nadadora profissional, e participa da fundação da Escola Nacional de Educação Física, da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da qual foi professora catedrática e diretora sendo, assim, a primeira mulher a dirigir uma Faculdade de Educação Física na América do Sul.

Passou três anos pesquisando sobre a relação entre longevidade, qualidade de vida e esporte, até que em 2003 lançou seu livro “Longevidade e Esporte”, onde relata seus estudos sobre os benefícios que a atividade física e, particularmente a natação, traz à saúde ao longo da vida. 

Em 1988, Maria Lenk foi incluída no Hall Internacional da Fama da Natação (Swimming Hall of Fame) da Federação Internacional de Natação (FINA), tornando-se, assim, a primeira atleta brasileira a receber essa homenagem, alcançada somente vinte e quatro anos mais tarde por Gustavo Borges. 

A maior honraria a Maria Lemke vem em 2012 quando o COI (Comitê Olímpico Internacional) a inclui na Ordem Olímpica, honraria concedida apenas aos maiores atletas de todos os tempos.

Maria Lenk - Pioneira - Natação - Olimpíada

Fig.4 Maria Lenk primeira brasileira a entrar no Hall da Fama da Natação

Maria Lenk, no entanto, jamais deixou de praticar a natação, competindo na categoria master e batendo recordes mundiais e conquistando cinco medalhas de ouro ao disputar, em 2000, o Mundial da categoria 85-90 anos. Ela participou sucessivamente em 11 mundiais nessa categoria ganhando 54 medalhas sendo 37 de ouro.

Uma imagem contendo pessoa, cerca, cachorro, raquete

Descrição gerada automaticamente

Fig.4  Maria Lenk participou de várias competições master de natação.

Em 2007, o Brasil homenageia Maria Lenk inaugurando o Complexo Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro. 

Nos jogos Olímpicos de Atlanta em 1966 Sandra Pires, junto com Jaqueline Silva, conquista o primeiro ouro brasileiro no vôlei de praia e homenageia Maria Lemke com a seguinte declaração:


“Maria Lenk abriu o caminho, foi mostrando que era possível e essa é a essência, ela tinha o espírito olímpico. E eu e Jackie fizemos isso também, na nossa geração. Eu acho que se não fosse ela, nós não teríamos ganhado a primeira medalha. Foi ela que começou lá atrás. Imagino como era naquela época uma mulher brasileira numa Olimpíada. Sou muito grata a ela por ter tido tanta força, por ter enfrentado tanto preconceito e continuado. Uma pena ela não ter conquistado uma medalha olímpica. Tenho um respeito e uma admiração enorme pela história dela”.

Vida pessoal

Em 1944, aos 29 anos Maria Lenk se casou com o diplomata norte-americano Daniel Zigler e teve um casal de filhos: Gilbert, em 1945, e Marlen, em 1947. O casal se divorciou em 1952 e Maria Lenke ficou com a guarda dos filhos vivendo no Rio de Janeiro. A fim de estudarem em universidades norte-americanas seus dois filhos passam a residir mais tarde nos EEUU com seu pai. 

Depois da aposentadoria Maria e Daniel voltam a viver juntos até o falecimento de Daniel, alternando períodos de seis meses no Brasil e nos EEUU, evitando os respectivos invernos.

Falecimento

No dia 16 de abril de 2007, aos 92 anos, ela saiu de casa pela manhã, caminhou até o clube e mergulhou na piscina do Flamengo quando sua artéria aorta se rompeu devido a um aneurisma. Assim, Maria Lenk deixou a vida fiel ao que muitas vezes afirmou “ A gente não pode pretender prolongar a vida, mas enquanto a gente vive, através do esporte, com as preocupações com a saúde, a gente pode prolongar o bem-estar”.


Fontes

https://www.cob.org.br/pt/cob/home/hall-da-fama/biografia/maria-lenk

https://www.amaralnatacao.com.br/natacao-e-longevidade-a-historia-de-maria-lenk/

https://www.acerj.com.br/4473-maria-lenk-uma-licao-de-vida/Fernanda Zalcman12 de julho de 2020     Maria Lenk: a primeira mulher brasileira a participar de uma Olimpíada (olimpiadatododia.com.br)