Yvonne P. Mascarenhas
yvonne@ifsc.usp.br

Antecedentes familiares

Seu pai, Adolfo Lutz, nasceu no Rio de Janeiro, seus avós eram suíços e emigraram para o Brasil indo viver no Rio de Janeiro onde tiveram vários filhos. Devido a uma epidemia de cólera a família decidir retornar à Suíça quando Adolfo tinha apenas 3 anos onde foi educado. Adolfo Lutz formou-se em Medicina na Universidade de Berna e retorna ao Brasil em 1881 numa época em que o Brasil estava assolado por pandemias. Em 1893 aceita um convite do governador do Estado de São Paulo para fundar e dirigir o Instituto Bacteriológico dedicado ao estudo de doenças infecciosas tendo permanecido no cargo até 1908. Em reconhecimento o seu trabalho, em 26 de outubro de 1940 esse Instituto foi denominado Instituto Adolfo Lutz. No mesmo ano aceita um convite de Oswaldo Cruz para trabalhar no Instituto de Manguinhos no Rio de Janeiro, RJ, onde jurado por 35 anos até a sua morte. Berta Lutz, um de seus 10 filhos, nasceu em 2 de agosto de 1894 em São Paulo, mas estudou na França graduando-se em 1018 em biologia na Universidade de Paris – Sorbonne e, logo em seguida, retorna ao Brasil e faz um concurso para o Museu Nacional.

As atividades de Bertha Lutz, entretanto se desenvolvem em duas áreas: uma científica e outra de caráter político. Vamos assim focalizar esses dois grandes ideais de sua vida.

Bertha Lutz política

Em consequência de ter tomado contacto com os movimentos feministas da Europa e dos Estados Unidos dedicou-se com grande empenho, a estabelecer no Brasil as bases do feminismo. Em 1919 Bertha Lutz cria a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher sendo seu foco inicial a concessão do direito de voto às mulheres. Em 1922, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher foi substituída pela Federação Brasileira para o Progresso Feminino (FBPF). Seus fins estavam explicitados em seus estatutos, no artigo 3:

1. Promover a educação da mulher e elevar o nível da instrução feminina;

2. Proteger as mães e a infância;

3. Obter garantias legislativas e práticas para o trabalho feminino;

4. Auxiliar as boas iniciativas da mulher e orientá-la na escolha de uma profissão;

5. Estimular o espírito de sociabilidade e cooperação entre as mulheres e interessá-las pelas questões sociais e de alcance público;

6. Assegurar à mulher os direitos políticos que a nossa Constituição lhe confere e prepará-la para o exercício inteligente desses direitos;

7. Estreitar os laços de amizade com os demais países americanos a fim de garantir a manutenção perpétua da paz e da justiça no Hemisfério ocidental.

Em 1922, representando a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e o Museu Nacional, Bertha Lutz participou do Congresso Brasileiro de Ensino Secundário e Superior, e defendeu a entrada de mulheres no Colégio Pedro II. Naquela época, o colégio era a principal instituição de ensino secundário do Rio de Janeiro e porta de entrada para o ensino superior. Mais tarde, em 1931, Bertha esteve presente na formatura da primeira aluna a receber o grau de bacharel naquela instituição.

Após a Revolução de 1930, o movimento para o voto feminino conseguiu a grande vitória, por meio do Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, do presidente Getúlio Vargas, que garantiu o direito de voto feminino no País. É muito interessante notar que as mulheres brasileiras conseguiram o direito de voto antes das francesas.

Dois anos depois, Bertha participou do comitê elaborador da Constituição (1934) e garantiu às mulheres a igualdade de direitos políticos. Em 1936 assumiu o mandato de deputada, que durou pouco mais de um ano. As principais bandeiras de luta eram mudanças na legislação trabalhista com relação ao direito feminino ao trabalho, contra o trabalho infantil, a favor do direito à licença maternidade e a equiparação de salários e direitos entre homens e mulheres. Lutou sempre com grande idealismo até o golpe do Estado Novo em 1937 e o consequente fechamento do Congresso Nacional.

Bertha Lutz cientista 

Em paralelo com suas atividades políticas Bertha teve também uma brilhante carreira científica. Estudou na França graduando-se em biologia na Universidade de Paris – Sorbonne, em 1918 Trabalhou em Zoologia especializando-se em anfíbios. Ela foi responsável pela descoberta de uma nova espécie de sapo, o Paratelmatobius lutzii.  Logo em seguida retorna ao Brasil e faz um concurso para o Museu Nacional.

 Entre 1927 e 1930, foi assistente da Seção de Botânica do Jardim Botânico. Uma de suas grandes contribuições na ciência foi a catalogação de 4.400 espécies nacionais. Além disso, ela também contribuiu para a manutenção da memória do trabalho de Adolfo Lutz em zoologia médica, parasitologia, veterinária, bacteriologia e botânica. 

No final de 1937 Bertha retornou ao Museu Nacional, onde assumiu a chefia do Setor de Botânica. Entre 1941 e 1944, participou de excursões científicas nos estados de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro a fim de coletar materiais de anfíbios e répteis. Exerceu o cargo de chefia do setor de botânica do Museu Nacional até aposentar-se, em 1965.

Infelizmente o acervo das atividades desenvolvidas por Bertha Lutz e de outros pesquisadores perdeu-se devido ao incêndio que destruiu grande parte do acervo do Museu Nacional em 2 de setembro 2018.

Últimas atividades

No Ano Internacional da Mulher, em 1975, ela foi convidada pelo governo brasileiro a integrar a delegação do País no primeiro Congresso Internacional da Mulher, realizado na capital do México. Foi seu último ato público em defesa da causa feminina e da igualdade de gênero. Ela morreu no Rio de Janeiro, em 1976, com 82 anos.

Conclusão

Podemos dizer que a grande luta pelos direitos civis das mulheres foi vitoriosa devido aos esforços de muitas mulheres valorosas como Bertha Lutz. Os movimentos atuais são de incentivo às meninas e mulheres para se dedicarem às mais variadas atividades atingindo condição de plena cidadania, tanto no exercício das Artes, como da Ciência, da Tecnologia e da Política.

Referências

1. Maria Izabel Siciliano de Souza, Maria Ferreira Abdala-Mendes, A formação científica e profissional das mulheres no Brasil: A contribuição de Bertha Lutz, História da ciência e Ensino, endereço eletrônico: https://revistas.pucsp.br/index.php/hcensino/article/view/37166

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Bertha_Lutz

3.Espaço Ciencia Viva https://www.facebook.com/espacocienciaviva/posts/2414690808590446/

4. Gabriela Mendes; Celebrando Bertha Lutz – a bióloga brasileira que lutou pelo reconhecimento internacional da igualdade de gênero; https://www.blogs.unicamp.br/cienciapelosolhosdelas/2020/01/24/celebrando-bertha-lutz-a-biologa-brasileira-que-lutou-pelo-reconhecimento-internacional-da-igualdade-de-genero/

5. Jaime Larry Benchmol, Adolpho Lutz: um esboço biográfico, Hist.cienc.saude-Manguinhos vol.10 no. 1 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2003
https://doi.org/10.1590/S0104-59702003000100002